A hipospádia é uma condição congênita que, embora seja uma das anomalias mais comuns do sistema urogenital masculino, muitas vezes gera dúvidas e preocupações. Compreender os diferentes tipos de hipospádia é essencial para entender a complexidade da condição e as opções de tratamento.
Em sua essência, a hipospádia ocorre quando a abertura da uretra (o canal por onde a urina sai) não se forma na ponta do pênis, mas sim em algum ponto ao longo da sua parte inferior (ventral). A classificação dos tipos de hipospádia é feita principalmente pela localização dessa abertura anômala.
Vamos explorar os principais tipos, partindo dos menos aos mais graves:
1. Hipospádia Distal (ou Glandular/Coronal)
Este é o tipo mais comum e geralmente o mais leve. A abertura da uretra está localizada próxima à ponta do pênis.
- Hipospádia Glandular: A abertura encontra-se na própria glande (cabeça do pênis), mas não exatamente no ápice. É a forma mais branda e, em alguns casos, pode até não exigir cirurgia, dependendo do grau.
- Hipospádia Coronal: A abertura está na coroa do pênis, ou seja, na base da glande, onde ela se une ao corpo do pênis. Ainda é considerada uma forma mais simples de hipospádia.
Nestes tipos, a correção cirúrgica tende a ser mais direta, com excelentes resultados estéticos e funcionais.
2. Hipospádia Média (ou Peniana)
Neste grupo, a abertura da uretra está localizada ao longo do corpo do pênis. A complexidade aumenta dependendo da proximidade da abertura em relação à base do pênis.
- Hipospádia Peniana Distal, Média ou Proximal: A abertura pode estar em qualquer ponto no corpo do pênis, desde mais próxima da glande até mais próxima do escroto. Quanto mais próxima da base, mais complexa a reconstrução cirúrgica geralmente se torna, pois pode haver uma maior deficiência da uretra e mais chance de curvatura do pênis (corda).
Este é o grupo mais variado, e o plano cirúrgico é altamente individualizado, dependendo da localização exata e da presença de outros fatores.
3. Hipospádia Proximal (ou Penoscrotal/Escrotal/Perineal)
São os tipos mais graves e menos comuns, onde a abertura uretral está localizada na base do pênis, no escroto ou até mesmo no períneo.
- Hipospádia Penoscrotal: A abertura está na junção entre o pênis e o escroto. Frequentemente associada a uma curvatura significativa do pênis e, por vezes, a um escroto com aparência “bifurcada” ou transposta.
- Hipospádia Escrotal: A abertura uretral encontra-se no escroto. Estes casos são mais complexos e podem exigir múltiplas etapas cirúrgicas para a reconstrução.
- Hipospádia Perineal: A abertura está localizada no períneo, a área entre o escroto e o ânus. Este é o tipo mais raro e mais grave, geralmente associado a outras malformações genitais e que pode, em algumas situações, levar à incerteza sobre o sexo do bebê ao nascimento (genitália ambígua). A correção é extremamente desafiadora e pode envolver diversas intervenções.
Características Associadas aos Tipos de Hipospádia
Independentemente do tipo principal, a hipospádia pode vir acompanhada de outras características que influenciam o tratamento:
- Corda Peniana (Curvatura): É a curvatura do pênis para baixo, causada por um tecido fibroso. Quanto mais proximal a hipospádia, maior a probabilidade e o grau da corda, que precisa ser corrigida cirurgicamente.
- Capuz Dorsal (Prebúcio Incompleto): O prepúcio não se forma completamente na parte inferior do pênis, acumulando-se na parte superior, como um “capuz”. É um sinal clássico da hipospádia, independentemente da sua gravidade.
- Transposição Escrotal: Em alguns casos mais graves, o escroto pode ter uma aparência anormal, parecendo “dividido” ou deslocado, o que também requer atenção cirúrgica.
A Importância da Avaliação Especializada
A classificação da hipospádia é fundamental para guiar o plano de tratamento. Cada tipo apresenta desafios específicos e exige abordagens cirúrgicas distintas. Por isso, a avaliação por um cirurgião pediátrico ou urologista pediátrico com vasta experiência no tratamento de hipospádias é crucial. Esse especialista será capaz de diagnosticar precisamente o tipo, avaliar as características associadas e determinar a melhor estratégia cirúrgica, visando o melhor resultado funcional e estético para a criança.
Com o diagnóstico correto e a intervenção adequada, a vasta maioria dos meninos com hipospádia pode ter uma vida normal e plena, com todas as funções urinárias e sexuais preservadas.


