Ao descobrir que seu filho tem hipospádia, uma das primeiras perguntas que vêm à mente dos pais é: “Por que isso aconteceu? Qual é a causa?” É uma dúvida natural e carregada de preocupação. No entanto, é fundamental esclarecer logo de início que, na grande maioria dos casos, a causa exata da hipospádia é desconhecida, e a condição não é culpa dos pais ou de algo que a mãe fez ou deixou de fazer durante a gravidez.

A hipospádia é uma anomalia congênita, o que significa que o bebê já nasce com ela. Ela se desenvolve durante as primeiras semanas de gestação, um período crucial para a formação do pênis e da uretra.

O Desenvolvimento e a Anomalia

O pênis se forma durante o primeiro trimestre da gravidez, especificamente entre a 8ª e a 14ª semana. Nesse tempo, a uretra, que normalmente deveria se fechar completamente e se estender até a ponta do pênis, não completa seu desenvolvimento. Por alguma razão, a abertura final se forma em um ponto mais abaixo na parte inferior do órgão.

Quais Fatores Podem Estar Envolvidos?

Embora a causa específica seja frequentemente um mistério, pesquisadores acreditam que a hipospádia é uma condição multifatorial, ou seja, resulta da interação de diversos fatores. Os principais suspeitos incluem:

  1. Fatores Genéticos: Existe uma predisposição familiar em alguns casos. Se há histórico de hipospádia na família (pai, avôs, irmãos ou tios do lado paterno ou materno), a probabilidade de um bebê nascer com a condição pode ser ligeiramente maior. No entanto, muitos casos ocorrem sem qualquer histórico familiar aparente, mostrando que a genética não é a única peça do quebra-cabeça.
  2. Fatores Hormonais: O desenvolvimento adequado do pênis e da uretra depende de um equilíbrio e da ação corretos dos hormônios masculinos, chamados andrógenos, no feto. Pequenas interrupções ou alterações na produção desses hormônios ou na forma como o corpo do bebê responde a eles durante o período crítico da gestação podem influenciar a formação completa da uretra. É importante notar que isso não significa que haja um desequilíbrio hormonal grave na mãe ou no bebê, mas sim uma falha pontual e muito sutil no processo de desenvolvimento embrionário.
  3. Fatores Ambientais: A pesquisa científica continua a explorar o papel de certos fatores ambientais. Alguns estudos investigam a possível ligação com:
    • Exposição a Certas Substâncias Químicas: Como alguns pesticidas, plastificantes (ftalatos) e outras substâncias que podem atuar como disruptores endócrinos (interferem no sistema hormonal).
    • Condições Maternas: Como diabetes gestacional (diabetes que surge durante a gravidez), obesidade materna ou o uso de certos medicamentos durante a gestação. No entanto, é crucial enfatizar que a associação com esses fatores ainda está sendo amplamente estudada e não são causas diretas e comprovadas para a maioria dos casos de hipospádia. Evitar a automedicação e ter um acompanhamento pré-natal rigoroso são sempre importantes para a saúde geral da gravidez.

A Mensagem Mais Importante

A hipospádia é, na sua essência, um acidente de percurso no complexo processo de desenvolvimento embrionário. Na grande maioria das vezes, não é possível apontar uma causa única ou identificar um culpado. Para pais e familiares, a maior tranquilidade deve vir do fato de que esta é uma condição tratável.

O foco principal, após o diagnóstico, deve ser a busca por informações confiáveis e o encaminhamento para um especialista (urologista pediátrico ou cirurgião pediátrico). Com o diagnóstico precoce e a cirurgia adequada, a hipospádia pode ser corrigida com sucesso, permitindo que o menino tenha uma vida plena e saudável, sem as preocupações que a condição não tratada poderia trazer.